A insegurança passou a fazer parte do cotidiano da população natalense. As ocorrências de furtos e roubos se repetem pela capital e por vezes trazem conseqüências trágicas para os que são involuntariamente envolvidos. Das vítimas são levados os pertences, o dinheiro e a coragem de retomar normalmente a vida que levavam. A violência se faz presente na ausência do Estado. Somente da quinta-feira da semana passada para cá, a polícia já coleciona inquéritos a serem solucionados de assaltos a banco e diversos roubos contra estabelecimentos comerciais. Nenhum responsável diretamente envolvido foi localizado ou preso.
A polícia acredita que a fuga em massa registrada no dia 19 de janeiro, quando mais de 40 detentos escaparam da Penitenciária Estadual de Alcaçuz, tenha relação direta com o índice elevado de criminalidade. Outro fato que estaria colaborando com os assaltos seriam os roubos de armas de vigilantes particulares registrados na zona Leste e zona Norte de Natal. Em uma semana, mais de cinco seguranças foram vítimas e tiveram os revólveres e pistolas levados. A combinação detentos mais armas nas ruas seria responsável pelo temor da população.
O despertar para os casos de insegurança ocorreu após um assalto em um padaria localizada no bairro de Petrópolis, zona Leste de Natal. Na oportunidade, uma dupla de criminosos invadiu o local, fugindo com cerca de R$ 100. Antes de sair, no entanto, feriram três pessoas a tiros após confundir as movimentações com tentativas de reação ao crime. De lá para cá, não faltam exemplos da criminalidade que se acentua na capital. Na segunda-feira passada, uma quadrilha rendeu funcionários de um banco no bairro de Candelária e escaparam levando mais de meio milhão de reais.
Os criminosos não se dão ao trabalho de tentar esconder a ocorrência em que estão envolvidos. Os assaltos ocorrem durante a luz do dia e os suspeitos estão sempre de "cara limpa".
Foi assim que uma dupla roubou R$ 12 mil em uma loja de pneus, no bairro de Tirol durante a manhã de ontem. Um dos funcionários havia acabado de deixar uma agência bancária com a quantia em dinheiro e retornava à loja. No local, na avenida Bernardo Vieira, foi abordado e ameaçado com uma pistola na cabeça.
Uma loja de produtos infantis também foi alvo de bandidos no início da tarde de ontem.
Para a polícia, "a situação está sob controle". As palavras são do coronel Wellington Alves, comandante do policiamento metropolitano (CPM). "A criminalidade varia com a época do ano e nos intensificamos o policiamento de acordo com isso. Há uma análise estatística e fazemos planejamos para combater esse avanço", declarou à TRIBUNA DO NORTE durante a tarde de ontem.
Mas apesar das declarações, a população está acuada. Comerciantes e clientes de alguns estabelecimentos assaltados se recusam a falar por medo de represálias dos bandidos. Nos bairros de classe média e média alta na cidade, a insegurança domina todas as conversas.
Apesar da ação de ostensividade, a PM alerta para atos de prevenção da população contra assaltos. "Em alguns casos, como saidinhas de banco, a população pode tentar se proteger e evitar o assalto. Cabe ao cidadão não facilitar sacando mais de R$ 10 mil e andando por aí pelas ruas", disse o coronel Alves.
Fugitivos de Alcaçuz são suspeitos
O dia 19 de janeiro de 2012 está marcado negativamente na história do Rio Grande do Norte como o dia da maior fuga do Sistema Prisional do Estado. As conseqüências da fragilidade do presídio em Nísia Floresta começam a tomar forma e prejudicar diretamente a população. As autoridades de segurança pública acreditam no envolvimento desses homens nas ocorrências de assaltos na Grande Natal.
Para o coronel Alves, a recente fuga da maior penitenciária do Estado pode ter relação direta com o índice de criminalidade percebido. "A fuga dos 40 de Alcaçuz pode ter relação direta com os assaltos constatados. Além disso, os criminosos têm se mostrado mais ousados".
As investigações de alguns dos casos recentes estão sob responsabilidade da Deicor. A delegada titular da Divisão, Sheila Freitas, também acredita no fator Alcaçuz como "motivador" de crimes na região. "Não tenho dúvidas dessa ligação", declarou.
A delegada preferiu não adiantar informações sobre o andamento das investigações para não interferir no trabalho ainda não finalizado. "Em alguns casos já identificamos os responsáveis. Achamos melhor não adiantar nada para não atrapalhar", completou.
Dos 41 fugitivos, onze foram recapturados e um foi encontrado morto na zona Oeste de Natal. A Polícia Militar permanece com as buscas na expectativa de localizar os criminosos.
OAB/RN
O presidente da seccional estadual da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-RN), Paulo Eduardo Teixeira, disse ontem que a instituição "vê com bastante preocupação" essa situação da escalada da criminalidade no Rio Grande do Norte, sobretudo na Região Metropolitana de Natal (RMN): "A gente pede que o Governo do Estado tome providências urgentes".
Para Teixeira, a primeira medida seria a colocação de policiais nas ruas e, depois, que "apresente um plano de segurança, porque a situação é insustentável".
Teixeira disse que, no momento, "não se vê nenhuma ação do Estado para combater essa onda de violência". Segundo ele, o governo precisa "usar da força do aparelho policial", para mostrar que "aqui no RN deve prevalecer a capacidade do Estado de manter a ordem e a segurança".
Além disso, Teixeira sugere que Natal é uma cidade "relativamente fácil" para se executar um plano de segurança", com a montagem de barreiras em pontos estratégicos, como as saídas da BR-101 e BR-426, a partir da ponte de Igapó.
"Também é preciso fortalecer os municípios com um efetivo policial compatível com a sua população", opinou ele, pois em alguns cidades só existem três ou quatro policiais.
Sesed diz que polícia está investigando
A Secretaria Estadual de Segurança Pública e Defesa Social (Sesed) ainda não tem elementos de provas ligando a onda de assaltos em Natal aos foragidos da penitenciária de Alcaçuz, em Nísia Floresta. O secretário Aldair da Rocha diz que o assalto ocorrido à agência do banco Itaú, na marginal da BR-101 em Lagoa Nova, tratou-se de "uma ação organizada" de bandidos, mas os outros assaltos que aconteceram em outros bairros da capital "foram ações eventuais".
Aldair da Rocha disse que a Polícia Civil e o setor de inteligência da Sesed estão trabalhando para prender os criminosos, embora não tenham indícios fortes que os fugitivos de Alcaçuz tenham participação nesses assaltos.
Rocha explicou que com relação ao assalto do Itaú, as imagens do circuito interno de TV "já estão sendo analisadas", mas elas não podem ser divulgadas, por enquanto, para não prejudicar as investigações. "Não prendemos fisicamente, mas as investigações estão sendo feitas", continuou.
Como medidas de curto prazo, o secretário de Defesa Social, que estava reunido com a cúpula da segurança pública na tarde de ontem, avisou que a Polícia Militar está aumentando o efetivo nas ruas, além de manter as operações de barreiras e "Operações Trânsito Seguro" para coibir os assaltos a ônibus, além da "Operação Verão" nas praias ao norte e ao sul da cidade, em virtude da presença dos turistas e ainda intensificar o patrulhamento no setor bancário.
Rocha explicou que agora, a Sesed já dispõe de uma espécie de mapa eletrônica, que a partir de chips instalados em todas as viaturas policiais da Grande Natal em que se pode monitorar e orientar a ação da Polícia na perseguição a bandidos.
Ele disse que o software "foi desenvolvido a custo zero" por uma equipe de técnicos da própria Sesed, e que já está interligando ao sistema os transportes coletivos e, posteriormente os táxis e estabelecimentos comerciais de Natal, que acionando o chamado "botão do pânico" pode avisar a Polícia no instante em que está havendo o crime. O sistema será mostrado, acrescentou ele, a Federação do Comércio do Rio Grande do Norte (Fecomercio) na próxima semana, no dia 14.
Como medida de médio e longo prazo para diminuir a criminalidade, o secretário de Segurança disse que já apresentou à governadora Rosalba Ciarlini 27 projetos, mas que precisam de recursos "que ela prometeu remanejar de outras áreas".
Aldair da Rocha ainda afirmou que no ano passado, não só a Sesed, mas todas as outras secretarias tiveram dificuldades financeiras e não tinham dinheiro para investimento, que este ano espera uma reversão do quadro para que, até fins de 2014, Natal se torne "a capital mais segura da região Nordeste".
"Nós fechamos um pacote de planejamento estratégico em todas áreas de segurança pública que se possa imaginar", declarou o secretário, que finalizou: "Mas é óbvio que tudo não será feito ao mesmo tempo, porque cada um tem seu viés e finalidade, e concretizar na forma do possível e da conveniência os projetos principais, como informatização da Polícia Civil e digitalização de todos os documentos do Itep, que está muito atrasado e tudo é feito no papel".
TRIBUNA DO NORTE - Retirado do Blog do Cabo Heronides
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