Os sentimentos expressos pelo sargento Ciro, que agora luta para não ficar paraplégico não são apenas seu. Representam uma verdadeira legião de policiais que também sofrem com a criminalidade cotidiana. A violência é crescente e preocupa. Se for comparado com o contingente de mais de 12 mil PMs – que na linha de frente atuam diariamente no patrulhamento ostensivo – o numero de policiais vítimas de violência pode não ser considerado muito alto. Mesmo assim, o tamanho da omissão do estado é mais que o suficiente para soar o alarme.
Segundo levantamento feito pela própria Polícia Militar, nos últimos cinco anos mais de 50 militares foram feridos ou morreram em virtude de confrontos com a bandidagem no Rio Grande do Norte. E somente nestes últimos quatro meses, quatro PMs já foram assassinados e oito pararam no hospital, baleados gravemente. Significa dizer que, em menos de 120 dias, a média já é superior a de ocorrências registradas em um ano inteiro.
A violência aumentou? Os policiais estão mal capacitados? Ou quem sabe estão sendo displicentes, se expondo mais, subestimando os criminosos? Os bandidos perderam a noção do perigo ao medir força com a polícia?
O fato é que muitos policiais ouvidos pela reportagem, temerosos em sofrer represálias, são unanimes em afirmar que o Estado não está nem ai para eles. Os familiares também concordam. O Novo Jornal ouviu depoimentos de três policiais feridos nestes últimos quatro meses, e de familiares de dois mortos e também colheu o testemunho do policial civil assassinado. Segundo relatos, faltam melhores equipamentos de segurança, o número de viaturas é insuficiente e não há armas letais para todos, reclamam.
Um dos policiais feridos, inclusive, denunciou algo pior. “Nossos coletes a prova de balas estão vencidos”. E de fato estão. No colete utilizado pelo PM quando ele sofreu um disparo, há uma etiqueta que comprova o absurdo. Lá está escrito que o equipamento foi fabricado em 1997.
Nada de mais se a vida útil do colete não tivesse validade de quatro anos, ou seja, fazem só dez anos que o colete dele não oferece as garantias necessárias para suportar ou amortecer o impacto de um tiro.
O policial é mesmo um herói. Sai de casa e não sabe se vai voltar. Tem que proteger a vida do cidadão sem condição alguma de proteger sequer a sua própria integridade física. Os feridos não recebem um tostão para a compra de remédios. Fora da rede pública, precisam gastar todo o salário em tratamentos, porque no contrário tudo é descontado no salário. Falta apoio psicológico e social. Se o policial morrer, a família recebe apenas a pensão e pronto. Se ficar inválido, tá lascado.
Fonte: Anderson Barbosa, do Novo Jornal.
Retirado do Blog do Cabo Heronides
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