domingo, 17 de março de 2013

VIOLÊNCIA SE INSTALA NA ZONA RURAL DO RN E PROVOCA ABANDONO DE RESIDÊNCIAS NO CAMPO


Assaltos, furtos, arrastões, medo, insegurança e muito descaso por parte do poder público tem levado os agricultores da região Oeste a abandonarem suas casas na zona rural e procurar refúgio nas zonas urbanas. O quadro descrito reflete a realidade da maioria dos municípios oestanos, onde a violência tem imperado.

Quem transita no sentido Alto Oeste, seja pela RN-117 ou pela BR-405, vê ao longo das rodovias casas abandonadas se deteriorando devido os seus antigos donos terem se mudado para uma área urbana, a procura de paz e para fugir da violência que tomou conta dos sítios e fazendas da região.

O retrato do medo está presente em quase todos os municípios, onde diariamente são registradas inúmeras ocorrências policiais. Municípios como Caraúbas, Olho D'água do Borges, Umarizal, Janduís, Messias Targino dentre outros, são os mais afetados pela violência rural e o abandono das casas já ultrapassa mais de 60% dos lares, segundo levantamento obtido com exclusividade pelo O Mossoroense, junto às prefeituras da região.

Em Caraúbas, por exemplo, de acordo com as informações da municipalidade, o baixo contingente policial impede que a ronda ostensiva da Polícia Militar seja feita diariamente em toda área territorial. Com isso, os bandidos aproveitam para agir livremente nas comunidades mais afastadas do centro urbano.

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Caraúbas desponta como o 7º maior município potiguar em área territorial, com área de 1.095,006 quilômetros quadrados. Toda esta área territorial é patrulhada apenas por duas equipes policiais compostas por três homens cada.

"Detalhe mais agravante ainda é, que as duas guarnições militares que temos não podem se ausentar ao mesmo tempo da área urbana, ficando a cargo de uma só equipe o patrulhamento das comunidades e isto é quase impossível de se fazer", explicou o capitão Carvalho, comandante do policiamento de Caraúbas.

A ausência da polícia em locais mais afastados do centro tem ocasionado arrastões ousados junto aos agricultores. Recentemente, o agricultor Francisco Estevão Cesariano, 58, deixou a zona rural e migrou para a cidade de Umarizal. Ele teve sua casa invadida por bandidos à noite. Os assaltantes levaram dinheiro e eletrodomésticos da família.

O agricultor contou que já estava dormindo quando, por volta das 23h30 os criminosos quebraram a porta de sua casa e renderam todas as pessoas, exigindo que entregasse armas e dinheiro. "Eu disse que não usava armas e o dinheiro que tinha em casa era pouquinho, mas mesmo assim eles levaram R$ 200,00 de uma criação que tinha vendido. Além disso me roubaram som, televisão, DVD e quando iam saindo, atiraram no meu cachorro. A melhor coisa foi abandonar o sítio e me mudar para a cidade", destacou.

Já na zona rural de Portalegre, um aposentado teve a sua casa invadida por criminosos, o dinheiro da aposentadoria roubado e sua neta, de 14 anos, estuprada, segundo relato da família da vítima.

"As comunidades do nosso município, são em sua maioria, de difícil acesso. Por volta das 18h30, dois elementos chegaram no alpendre pedindo água. Quando entrei para pegar a água eles me acompanharam e anunciaram o assalto. Minha neta que mora comigo ouviu a conversa e quando chegou na sala foi rendida. Depois que os elementos pegaram dinheiro e objetos foram embora levando a menina, que foi violentada e abandonada", disse o aposentado.
"A saída para acabar com os crimes nas áreas rurais e urbanas é investir em educação e na segurança, reforçando os contingentes das polícias militares e civis, além de dar condições ideais para trabalhar", enfatizou o delegado Inácio Rodrigues, titular da Delegacia Regional de Polícia Civil de Pau dos Ferros.

Medo de assaltos leva comércio a fechar portas nas estradas da região Oeste

Os municípios da região Oeste estão sofrendo cada vez mais com o crescente índice de insegurança. A população vem sendo alvo constante de roubos, arrombamentos e ultimamente os poucos comércios que ainda existe às margens das rodovias, aos poucos estão fechando suas portas com medo dos arrastões.

Às margens da RN-117, a aproximadamente 20 quilômetros de Caraúbas, sentido Olho D'água do Borges, a antiga "churrascaria Casa Grande", projetada no final dos anos 80 para ser parada interestadual dos ônibus de passageiros e ponto de apoio aos caminhoneiros, está com toda a sua estrutura física abandonadae sendo corroída pela ação de ladrões.

O local, de acordo com Ozório Neto, filho do proprietário, está há mais de 10 anos sem funcionar e abandonado. O motivo seria a insegurança às margens da rodovia. "Não adiantava continuar funcionando. Primeiro, ninguém mais tinha coragem de parar para se alimentar, devido ser distante da cidade e o grande número de assaltos nas imediações provocou o medo nas pessoas. Depois a própria segurança dos funcionários estava abalada com os assaltos. Hoje é triste ver o que seria o investimento de uma vida se desmanchando com o tempo", destacou.

Semelhantemente, mais adiante, entre os municípios de Umarizal e Martins, as paredes de uma antiga casa, lembra o que restou da bodega de Manoel Saraiva. Com a morte do avô, a neta Maria Saraiva ainda tentou manter o pequeno comercio, no entanto, duas vezes assaltadas, a melhor saída foi se mudar para uma cidade e fugir da ação dos marginais.

"Na nossa região o trabalhador é refém da bandidagem. O homem de bem é subjugado ao esquecimento das autoridades governamentais", concluiu o sociólogo Antonio Messias Neto, em um dos seus artigos, denominado "Retratos do Meu Sertão".

FONTE: O MOSSOROENSE

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