Assaltos, furtos, arrastões, medo, insegurança e muito
descaso por parte do poder público tem levado os agricultores da região Oeste a
abandonarem suas casas na zona rural e procurar refúgio nas zonas urbanas. O
quadro descrito reflete a realidade da maioria dos municípios oestanos, onde a
violência tem imperado.
Quem transita no sentido Alto Oeste, seja pela RN-117 ou pela
BR-405, vê ao longo das rodovias casas abandonadas se deteriorando devido os
seus antigos donos terem se mudado para uma área urbana, a procura de paz e
para fugir da violência que tomou conta dos sítios e fazendas da região.
O retrato do medo está presente em quase todos os municípios,
onde diariamente são registradas inúmeras ocorrências policiais. Municípios
como Caraúbas, Olho D'água do Borges, Umarizal, Janduís, Messias Targino dentre
outros, são os mais afetados pela violência rural e o abandono das casas já
ultrapassa mais de 60% dos lares, segundo levantamento obtido com exclusividade
pelo O Mossoroense, junto às prefeituras da região.
Em Caraúbas, por exemplo, de acordo com as informações da
municipalidade, o baixo contingente policial impede que a ronda ostensiva da
Polícia Militar seja feita diariamente em toda área territorial. Com isso, os
bandidos aproveitam para agir livremente nas comunidades mais afastadas do
centro urbano.
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE), Caraúbas desponta como o 7º maior município potiguar em área
territorial, com área de 1.095,006 quilômetros quadrados. Toda esta área
territorial é patrulhada apenas por duas equipes policiais compostas por três
homens cada.
"Detalhe mais agravante ainda é, que as duas guarnições
militares que temos não podem se ausentar ao mesmo tempo da área urbana,
ficando a cargo de uma só equipe o patrulhamento das comunidades e isto é quase
impossível de se fazer", explicou o capitão Carvalho, comandante do
policiamento de Caraúbas.
A ausência da polícia em locais mais afastados do centro tem
ocasionado arrastões ousados junto aos agricultores. Recentemente, o agricultor
Francisco Estevão Cesariano, 58, deixou a zona rural e migrou para a cidade de
Umarizal. Ele teve sua casa invadida por bandidos à noite. Os assaltantes
levaram dinheiro e eletrodomésticos da família.
O agricultor contou que já estava dormindo quando, por volta
das 23h30 os criminosos quebraram a porta de sua casa e renderam todas as
pessoas, exigindo que entregasse armas e dinheiro. "Eu disse que não usava
armas e o dinheiro que tinha em casa era pouquinho, mas mesmo assim eles
levaram R$ 200,00 de uma criação que tinha vendido. Além disso me roubaram som,
televisão, DVD e quando iam saindo, atiraram no meu cachorro. A melhor coisa
foi abandonar o sítio e me mudar para a cidade", destacou.
Já na zona rural de Portalegre, um aposentado teve a sua casa
invadida por criminosos, o dinheiro da aposentadoria roubado e sua neta, de 14
anos, estuprada, segundo relato da família da vítima.
"As comunidades do nosso município, são em sua maioria,
de difícil acesso. Por volta das 18h30, dois elementos chegaram no alpendre
pedindo água. Quando entrei para pegar a água eles me acompanharam e anunciaram
o assalto. Minha neta que mora comigo ouviu a conversa e quando chegou na sala
foi rendida. Depois que os elementos pegaram dinheiro e objetos foram embora
levando a menina, que foi violentada e abandonada", disse o aposentado.
"A saída para acabar com os crimes nas áreas rurais e
urbanas é investir em educação e na segurança, reforçando os contingentes das
polícias militares e civis, além de dar condições ideais para trabalhar",
enfatizou o delegado Inácio Rodrigues, titular da Delegacia Regional de Polícia
Civil de Pau dos Ferros.
Medo de assaltos leva comércio a fechar portas nas estradas
da região Oeste
Os municípios da região Oeste estão sofrendo cada vez mais
com o crescente índice de insegurança. A população vem sendo alvo constante de
roubos, arrombamentos e ultimamente os poucos comércios que ainda existe às
margens das rodovias, aos poucos estão fechando suas portas com medo dos
arrastões.
Às margens da RN-117, a aproximadamente 20 quilômetros de
Caraúbas, sentido Olho D'água do Borges, a antiga "churrascaria Casa
Grande", projetada no final dos anos 80 para ser parada interestadual dos
ônibus de passageiros e ponto de apoio aos caminhoneiros, está com toda a sua
estrutura física abandonadae sendo corroída pela ação de ladrões.
O local, de acordo com Ozório Neto, filho do proprietário,
está há mais de 10 anos sem funcionar e abandonado. O motivo seria a
insegurança às margens da rodovia. "Não adiantava continuar funcionando.
Primeiro, ninguém mais tinha coragem de parar para se alimentar, devido ser
distante da cidade e o grande número de assaltos nas imediações provocou o medo
nas pessoas. Depois a própria segurança dos funcionários estava abalada com os
assaltos. Hoje é triste ver o que seria o investimento de uma vida se
desmanchando com o tempo", destacou.
Semelhantemente, mais adiante, entre os municípios de
Umarizal e Martins, as paredes de uma antiga casa, lembra o que restou da
bodega de Manoel Saraiva. Com a morte do avô, a neta Maria Saraiva ainda tentou
manter o pequeno comercio, no entanto, duas vezes assaltadas, a melhor saída foi
se mudar para uma cidade e fugir da ação dos marginais.
"Na nossa região o trabalhador é refém da bandidagem. O
homem de bem é subjugado ao esquecimento das autoridades governamentais",
concluiu o sociólogo Antonio Messias Neto, em um dos seus artigos, denominado
"Retratos do Meu Sertão".
FONTE: O MOSSOROENSE
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