domingo, 25 de agosto de 2013

HOMENAGEM AO DIA DO SOLDADO




Carta ao Rei de Portugal

"Senhor umas casas existem, no Vosso Reino, onde homens vivem em comum, comendo mesmo alimento, dormindo em leitos iguais. De manhã a um toque de corneta se levantam, para obedecer. De noite, a outro toque de corneta se deitam, obedecendo. Da vontade fizeram renúncia como da vida. Seu nome é sacrifício. Por ofício desprezam a morte e o sofrimento físico, Seus pecados mesmo são generosos, facilmente esplêndidos. A beleza das suas ações e tão grande que os poetas não se cansam de a celebrar. 


Quando eles passam juntos, fazendo barulho, os corações mais cansados sentem estremecer alguma coisa dentro de si. A gente conhece-os por militares: Eu cá chamo-lhes padres. Padres de religião augusta, a única possível nos dias de hoje; a do civismo. Por essa divina humidade que os faz semelhantes a coisas, eles se levantam acima dos outros homens. 



Corações mesquinhos lançam-lhes em rosto o pão que comem; como se os cobres do pré pudessem pagar a liberdade e a vida. Publicistas de vista curta acham-nos caros demais, como se alguma coisa houvesse mais cara que a servidão. Eles, porém, calados, continuam guardando a Nação do estrangeiro e de si mesma. Pelo preço de sua sujeição, eles compram a liberdade para todos e a defendem na invasão estrangeira e do jugo das paixões. Se a força das coisas os impede agora de fazerem em rigor tudo isto, algum dia o fizeram, algum dia o farão. E, desde hoje, é como se o fizessem. Porque, por definição, o Homem de guerra é nobre. Enquanto ele se põe em marcha, à sua esquerda vai a coragem, e à sua direita a disciplina". 



Moniz Barreto, 1893

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