terça-feira, 27 de agosto de 2013

SECRETÁRIO DE SEGURANÇA RECONHECE QUE GOVERNO PRECISA DIALOGAR MAIS

Sincero. É assim que o secretário estadual de Segurança Pública (Sesed), Aldair da Rocha, pode ser adjetivado quando comenta a atuação do Estado diante da crescente escalada da violência urbana. Em entrevista ao portalnoar.com, Rocha comentou a crise da segurança; afirmou serem justas as reivindicações da Polícia Civil e da Polícia Militar; e confirmou que a frustração “foi grande” quando a governadora Rosalba Ciarlini anunciou que o Estado estava em crise financeira neste ano. Sem amarras políticas, Aldair da Rocha, secretário de uma das pastas mais importantes do único governo do DEM no Brasil, ainda elogiou a atuação do ex-presidente Lula, do PT, que foi responsável, segundo Rocha, pela verdadeira evolução da Polícia Federal.
Leia a entrevista de Aldair da Rocha na íntegra ao portalnoar.com.
Como o senhor está analisando essa situação da greve da Polícia Civil e a insatisfação clara a Polícia Militar?
Primeiro, os policiais militares no Brasil têm uma reivindicação muito justa. Melhoria, valorização, passa por uma necessidade que temos no Brasil todo que é ter uma policia civil mais valorizada. É natural que isso ocorra. Aqui no RN, tanto a Civil, quanto a Militar, nós temos um estudo, necessita de mais investimentos, isso não tem nem mais o que se discutir. Agora é que os recursos estão começando a chegar. A capacitação também vai ser muito forte e acredito que até a Copa do Mundo, pelo menos é esse o nosso objetivo, a gente melhore muito o sistema de segurança do nosso Estado.
E com uma greve de agentes e delegados, é possível dizer que a Polícia Civil vive seu pior momento na história recente?
Na verdade, hoje eles não dispõem de uma estrutura física adequada, de equipamentos. Faltam equipamentos. E nós estamos trabalhando para isso. Então, todos esses projetos que temos hoje, de melhoria nas delegacias, de equipamentos, com recursos do banco mundial, mas o que está esbarrando é, principalmente, a necessidade de contratação de pessoal. Infelizmente o Estado está no limite da Lei de Responsabilidade Fiscal e nós estamos trabalhando isso junto à governadora e o planejamento que, tão logo haja uma possibilidade de pagamento dentro da folha do estado, seja feita a contratação de policiais. É uma necessidade, mas a gente depende da melhoria da receita do Estado.
E o aumento do efetivo das duas polícias?
Quanto à Polícia Militar, nós sabemos que temos que remanejar efetivo. Hoje nós temos mais de mil policiais fora da função. Isso, posso garantir a vocês com o levantamento feito por nos. Por isso, nosso pedido número um é que nós temos que colocar esse pessoal para a rua. Polícia tem que estar na rua.
Onde estão esses policiais militares?
É na Assembleia Legislativa, Ministério Público, Tribunal de Justiça, Tribunal de Contas. Inclusive internamente, como no Detran. Todos os órgãos do Estado têm um policial trabalhando, fora da função, é claro. Porque policial é para estar na rua e, efetivamente, fazendo o combate direto ao crime. Então, a primeira necessidade do Governo é sentar e conversar sobre isso. Nós temos que colocar pelo menos uns 800 policiais a mil nas ruas. E nós já temos esses policiais. Essa é uma briga boa que nós temos que travar, já que temos a dificuldade em contratar novos devido à questão financeira.
E o esperado concurso para a formação de novos tenentes da PM, que a governadora prometeu este ano, deve sair?
Tudo hoje no estado depende da arrecadação, da receita. Então, nós vivemos de olho no que diz o secretário de Planejamento [Obery Rodrigues]. Nós seguimos exatamente ali, não podemos gastar um centavo a mais. Então quando se fala da folha de pessoal, tem-se que passar pelo Planejamento, pela Administração e pela governadora. Inclusive, cursos de formação. Eu sei que a PM precisa disso, valorizar as classes. Sabemos que tem gente que está há muitos anos no mesmo cargo, no mesmo posto, e não é promovido. Isso causa um desgaste tremendo, que precisa de alguma forma ser contornado. O Governo do Estado precisa trabalhar e dialogar mais com essa classe, que tanto dá esse apoio para o Estado, que é a classe dos policiais, mas acho que conversando a gente vai consertando tudo.
E os policiais civis?
Temos aproximadamente 300 policiais já formados, que já fizeram o curso de agente, delegado e escrivães. Vamos tentar estabelecer com o Governo um cronograma de convocação desse pessoal e eu espero que tudo dê certo. Essas semanas, entre 15 a 20 policiais já vão ser chamados agora. É um grupo pequeno, mas que vai abrir isso aí. É a nossa proposta. Logo depois, temos que fazer esse cronograma.
Já recebeu alguma sinalização do Governo de até quando isso deve ser feito?
No máximo até abril ou maio do próximo ano, nós temos que estar com todo esse efetivo, porque é uma necessidade. Não sei como, mas nós temos que fazer esse esforço porque as estruturas estarão prontas. Nós vamos ter recursos para delegacias de homicídio, então temos que ter esse pessoal. É igual a fazer um hospital, fazer a UTI, e não ter o médico e o enfermeiro, para tomar conta.
O senhor que veio da Polícia Federal, como vê a situação da Polícia Civil no RN?
Vou te dizer, porque senti na pela, porque testemunhei. Eu vim da Polícia Militar, mas quando entrei na Polícia Federal em 1996, antes do nosso presidente Lula, a PF era a mesma coisa da Polícia Civil aqui do RN. Aí, o que foi que houve? O presidente Lula, com uma visão que todos conhecem, ele transformou a Polícia Federal, mas com o quê? Capacitando o pessoal, investindo em treinamentos, em equipamentos. E a PF, em pouco tempo, em menos de quatro ou cinco anos, deu uma reviravolta e se tornou um exemplo, para a América Latina toda, de polícia equipada e bem treinada. Tudo depende de investimento e que os governantes tenham uma visão para a Segurança Pública. Não é só aqui no Rio Grande do Norte, no Brasil todo. Infelizmente, é difícil você ter governante com essa visão. Hoje é prioridade do Governo do Estado investir em segurança, mas a Polícia Civil hoje é a Polícia Federal de 1996.
Com relação ao que era prometido no início do ano, que 2013 seria um ano de realizações também na Segurança Pública, é possível dizer que houve uma frustração com a crise econômica que se instalou no Estado?
Ah, é claro. Nossa, muito, muito! Foi uma frustração enorme. Eu garanto a você que nós temos projetos na área da segurança para o RN todo. Agora, precisa de investimento, o recurso precisa vir. Não podemos só sentar na cadeira e esperar o recurso vir. Nós temos que ir lá para Brasília, falar com nossos deputados, senadores, falar com as prefeituras, tirar daqui e dali para conseguir o recurso. Temos que superar as dificuldades e atingir os objetivos. Mas uma frustração sempre existe porque é uma crise que atingiu o mundo todo e chegou aos estados e estamos sentindo na pele isso aí.
O que o Brasil Mais Seguro vai ajudar na segurança pública do RN?
O objetivo desse projeto é, basicamente, melhorar a inteligência, também no interior do Estado. Então nós temos ideia de montar base em Caicó, Pau dos Ferros, mas com equipamentos de primeira linha, os mesmos que a gente usa aqui em Natal, inclusive para fazer o controle da criminalidade.
Vai haver melhoria nas delegacias também?
O Governo Federal já aprovou esse projeto. Agora vai depender só eles liberarem esses recursos e a partir daí, é lógico vai ser a licitação normal, já começa a implantar, porque é uma coisa muito fácil. Essas empresas que trabalham com esse tipo de material, equipamento, eles já tem uma expertise nisso aí. A partir do momento que tem o recurso, fica fácil. Acredito que até o final do ano.
Onde ficarão essas primeiras câmeras de videomonitoramento?
A minha ideia é trazer para cá, mas elas podem ser replicadas no Ciosp [Centro Integrado de Operações em Segurança Pública] também. Nós estamos mudando o Ciosp do atual prédio, que está praticamente caindo, para um prédio novo, lá na Jundiaí, ao lado do Instituto da Previdência do RN.
São recursos na ordem de R$ 40 milhões. Até quando o RN poderá utilizar essa quantia?
O prazo é até 31 de dezembro de 2014, mas podemos conseguir mais recursos. Depende de como trabalhar esses recursos aqui, a gente teria conseguir mais recursos ao Governo Federal.
A Sesed também fechou uma parceria com a Prefeitura de Mossoró. Como foi isso?
As prefeituras estão sendo contatadas pelo Governo do Estado para nos apoiar. E a primeira prefeita que já se dispôs a colaborar foi a de Mossoró, com uma base integrada de videomonitoramento e com a possibilidade da prefeitura nos ajudar com a diária operacional dos policiais militares. Isso tem dado um folego e uma ajuda importante. No bairro mais violento de lá, o bairro de Santo Antônio, onde nos implantamos o projeto, em uma semana nos praticamente zeramos a criminalidade. E nos podemos fazer isso no Estado todo, depende de parcerias, com prefeitura e comércio, nos conseguimos melhorar a situação.
Isso é semelhante ao que foi feito em Natal?
Nós iniciamos um trabalho na gestão passada. Estava bem adiantado, mas com a mudança de gestão municipal, nós precisamos retomar essa conversa. Houve um distanciamento, mas não foi nada político.
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